Como ocorre a lesão labral no quadril?
A Lesão labral (ou lesão do labrum acetabular) é considerada uma das principais causas de dor intra-articular (dentro da articulação) do quadril, e estudos sugerem que pode ser uma das principais causadores de desgaste de quadril a longo prazo.
O labrum (ou Lábio acetabular) é uma estrutura de cartilagem que faz parte da articulação do quadril.
Ele recobre o contorno da borda do acetábulo, auxiliando em diversas funções como a vedação da articulação, absorção de impacto, aumento da estabilidade da articulação (mantendo o femur encaixado no acetábulo), entre outras funções. Falarei um pouco mais sobre isso na postagem de anatomia do quadril (em breve).
Existem diversas causas que levam o paciente a ter uma lesão no labrum. De modo geral, está relacionado com alterações no formato do femur ou do acetábulo (que podem ser hereditárias ou por sequelas de outros traumas), movimentação inadequada (atividades com grande abertura de perna e muita rotação ou hipermobilidade), ou degeneração natural da articulação (osteoartrose / coxartrose ).
Estimasse que cerca de 75% dos casos são considerados Idiopáticos, ou seja, não é encontrada uma causa específica para a lesão.
Estudos mostram que a causa mais comum é o chamado impacto femoroacetabular, que será discutido em outra postagem em breve.
Em todos os casos, existe algo que traciona (puxa) ou impacta/atrita contra o labrum, causando a lesão e consequentemente desencadeando uma sequencia de alterações no funcionamento do quadril.
Quais são os sintomas?
Os sintomas de lesão no labrum podem variar de pessoa para pessoa, pois depende não só da localização da lesão, mas também das atividades que a pessoa executa. Outra fato importante a se considerar, é que o corpo humano sempre tenta evitar que a pessoa sinta dor.
Dessa forma, a movimentação do quadril pode ficar discretamente alterada em casos de lesão, sobrecarregando outras estruturas como músculos, causando dores em diversas regiões do quadril.
A grande maioria dos pacientes, refere uma dor na virilha ou uma dor tipo “C”, localizando a dor na região anterior e posterior do quadril, demonstrando a localização com a mão em forma de “C”
Outras pessoas, podem localizar a dor em uma região mais lateral da coxa ou até na região glútea. Nesses casos, a dor pode ser somente da própria lesão labral, ou estar associada a dores das complicações causadas pelo desbalanço no quadril (como tendinites ou bursites por sobrecarga em outras regiões), ou dependendo do estágio até mesmo da artrose.
Hoje em dia, acredita-se que grande parte das artroses sem uma causa definida ( ditas idiopáticas) estejam associadas a pequenas lesões labrais ou impacto femoroacetabular que evoluíram para artrose do quadril.
Por se tratar de uma alteração que envolve toda a mecânica do quadril, as dores podem apresentar piora em diversos momentos, como ao sentar, ao caminhar, durante atividade física, sensação de falseio do quadril ou até a sensação de rigidez ao levantar ( como se o quadril estivesse duro e precisasse “aquecer” para a dor melhorar).
Como saber se tenho lesão no labrum?
A suspeita de lesão labral necessita de exames de imagem para ser comprovada. Para um tratamento adequado não basta saber da presença da lesão, é necessário saber seu tamanho, características, localização e causa da lesão. Uma vez que não adianta tratar uma lesão, sem saber o motivo dela ter surgido, caso contrario uma nova lesão ocorrerá.
Para visualizar a lesão no labrum, o melhor exame é a Ressonância Nuclear Magnética (RNM), sendo que mesmo assim, pequenas lesões podem não ser vistas em alguns casos.
Para investigar as causas, geralmente associamos a RNM a historia do paciente (quando e como a dor começou), exame fisico ( quais movimentos pioram ou melhoram a dor) e alguns exames para avaliar o femur e o acetábulo, como radiografias ou até mesmo Tomografia (em casos específicos).
Como tratar a lesão labral?
Lesão no labrum tem cura?
A primeira coisa, quando possível, é definir a causa da lesão (muitas vezes não conseguimos definir uma única causa específica), pois o tratamento da causa é fundamental para um bom tratamento da lesão labral do quadril.
O tratamento geralmente é iniciado de forma “conservadora”, ou seja, sem procedimentos cirúrgicos, através do uso de medicações, mudanças no estilo de vida e atividade física e um rebalanceamento adequado da musculatura do quadril e treino de propriocepção (capacidade do corpo saber qual a posição dos nossas articulações em relação ao espaço, sem que precisemos olhar para elas).
Devemos suspender todas atividades que façam os movimentos associados a dor e preparar o nosso quadril para uma movimentação adequada.
lesão labral precisa de cirurgia?
Apesar do lançamento de vários trabalhos científicos estarem indicando cada vez mais o tratamento cirúrgico para lesões de labrum e impacto femoroacetabular, acredito que um Bom tratamento conservador ajuda a evitar a cirurgia em muitos casos.
Em alguns casos, podemos utilizar tratamentos com infiltrações ou bloqueios de nervos que são feitos com agulhas, visando alívio temporário da dor. Nesses casos, não estamos resolvendo a causa, mas estamos aliviando os sintomas para que o paciente consiga realizar a fisioterapia ou fortalecimento, ou em casos específicos, atrasar uma possível cirurgia.
Porém, existem casos específicos em que o tratamento conservador não é capaz de resolver ou controlar a situação, e nesses casos pode ser necessário a realização de uma cirurgia para corrigir a causa da lesão ou até mesmo reparar a lesão (quando possível).
A cirurgia geralmente é feita através de Artroscopia do Quadril, uma técnica onde pequenos cortes são realizados e uma camera é inserida no quadril, de modo que possa ser realizado a cirurgia sem a necessidade de um grande corte.
Em alguns casos, o labrum pode ser suturado (costurado) ou fixado novamente ao acetábulo através de ancoras cirúrgicas ( parecem como um pequeno parafuso com um fio na base que é amarrado ao labrum e parafuso ao osso).
O que é artroscopia do quadril?
A artroscopia do quadril vem ganhando muito espaço e evoluindo muito ultimamente, mas recomenda-se cuidado, uma vez que apesar dos cortes na pele serem pequenos, o procedimento cirúrgico não é isento de riscos. Em muitos lugares achasse o termo “cirurgia minimamente invasiva” o que dá a impressão para o paciente que o procedimento é pequeno e isento de complicações, quando na verdade o termo se refere ao tamanho dos cortes na pele e nos tecidos.
Abordarei um pouco mais sobre a artroscopia de quadril em outro texto e o motivo de eu ser mais cauteloso nas indicações desse tipo de cirurgia (postagem sobre artroscopia em breve)
Quando bem Indicada e realizada, a artroscopia pode tratar lesões articulares ou retardar o desgaste da articulação (artrose) e a necessidade de outros procedimentos cirúrgicos.